Caminhar no nevoeiro

Associada aos mistérios da salvação, Nossa Senhora sabia como seu Filho resgataria a humanidade extraviada, mas desconhecia o dia e a hora. Ao perceber sua ausência quando da perda do Menino Jesus no Templo, quantas angústias terão pervadido sua alma virginalmente maternal! Já teria sido Ele preso? Talvez, até, crucificado! E Ela ausente neste supremo momento…

Após sofrer por três dias um verdadeiro martírio espiritual, e certa de que nada com Jesus acontecia por acaso, compreende-se que, ao reencontrá-Lo, a angústia de Maria tenha cedido lugar à perplexidade: “por que fizeste isto?” (cf. Lc 2, 48).

Diante da enigmática resposta (cf. Lc 2, 49-50), Nossa Senhora ainda assim dá exemplo da atitude perfeita: longe de revoltar-Se ou exigir maiores explicações, aceita das mãos de Deus o incompreensível, guardando “todas estas coisas no seu coração” (Lc 2, 51), como o mais precioso dos presentes.

Conosco se multiplicam fatos análogos: muitas vezes, parece-nos uma “perda” aquilo que na realidade é um tesouro espiritual oferecido por Deus. Naquele momento, o inexplicável nos desconcerta; não entendemos, e disto mesmo provém o mérito.

Nosso Pai celeste quer ser amado também de dentro do mistério. Não nos corresponde entender tudo; entendemos, aliás, muito pouco: algo se nos revela aqui, enquanto vivemos entre brumas que só se dissiparão na eternidade.

A incondicionalidade do verdadeiro amor a Deus, manifestado do meio da incerteza, é um caminho seguro e rápido para chegar até Ele. Bem-aventurados os que aceitam a vontade do Senhor sem entender, porque serão admitidos na sua intimidade… Por toda eternidade!

 

(Adaptação de trecho de artigo da revista “Arautos do Evangelho”, nº 170, fevereiro de 2016, p. 5. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, freeimages

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